“Comunicação e Religião”
FRANCINE BORBA
THIAGO RIBEIRO
Na apresentação final da disciplina
Comunicação Comunitária abordamos alguns aspectos em que os campos da Comunicação
e da Religião se relacionam, recortando, sobretudo, no uso que as mega-igrejas
contemporâneas, do movimento neopentecostal, fazem dos meios midiáticos (foco
na impressa eletrônica), como forma de angariar ou fidelizar membros aos cultos
presenciais.
Essa
passagem do templo ao lar deu-se num longo processo histórico, iniciado,
pode-se dizer, com a invenção da prensa por Johan Gutemberg (séc. XV).
Assertiva esta corroborada pelo próprio uso primário desta técnica (ou
tecnologia), que teve como primeiro produto a bíblia, sendo impressa de forma
massiva. Á época, a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), ainda detinha o
poderio simbólico-cultural sobre os mais diversos níveis da sociedade, desde a
política ao microcosmo comportamental dos indivíduos atomizados.
Fazendo
uma longa viagem espaço-temporal, ‘pousamos’ no Brasil em 1941, onde a rádio
Excelsior foi pioneiramente a primeira concessão radiofônica á igreja católica
em solo tupiniquim, fazendo a mensagem
cristã, embalada no invólucro institucional chegar à milhares de lares, país
afora. O meio midiático eletrônico propiciou a expansão deste tipo de
manifestação: nos anos 50, Billy Graham e alguns líderes religiosos dos Estados
Unidos iniciaram um movimento de propagação dos ideiais cristãos sob uma outra
ótica; com investimentos milionários em locação de horários, as pregações
invadiram a televisão. Era o limiar do que hoje é conhecido como Televangelismo.
Era também o início desta corrente nova conhecida como Neopentecostalismo, que
se configura como uma modernização dos padrões de crença e comportamento no
meio cristão. Dentre os aspectos mais relevantes que os diferenciam das
correntes cristãs tradicionais, temos:
·
A atuação maciça
nos meio de comunicação de massa
·
A inserção político-partidária
em vários cargos de agentes públicos
·
A ausência do
legalismo comportamental (não-restrição acerca dos modos de vestir, se portar,
se expressar, etc)
·
Crença na
teologia da prosperidade (corrente teológica que se prioriza a aquisição de bens
materiais e as curas de enfermidades)
Estes são alguns aspectos
que os diferenciam ao neopentecostais das correntes de igrejas tradicionais.
Essa corrente teve relevante expansão no Brasil, a partir da compra da TV
Record nos anos 90, pela Igreja Universal do Reino de Deus, que consolidou um
império midiático, com uma programação diversa e pouco voltada à questões
religiosas e/ou espiritualistas.
Nesse mix entre Religião
e Comunicação, não podemos deixar de entrever a potência financeira que gira em
torno desta ‘máquina de fé’ inserida dentro de um contexto macrossocial de relações de produção capitalistas .
Enredando nesta relação entre capitalismo e ética religiosa, Zizek¹ faz uma
valorosa contribuição reflexiva;
“o capitalista ideal é alguém que está pronto para
dar sua vida, arriscar tudo simplesmente para que a produção cresça, o lucro
cresça e o capital circule. Sua felicidade está totalmente subordinada a isso”.
Mediante este contexto inescrupuloso,
submisso às ordens do Capital financeiro vigente, os indivíduos imbricam todos
os tipos de relações (éticas, produtivas, artísticas, religiosas, etc.), numa
mesma ‘panela’ de trocas. Onde o que interessa, em última instância, é a
aquisição e acumulação de bens materiais.
E a mídia, enquanto aparato
técnico-humano de comunicação social torna-se uma ferramenta amplamente útil
para manutenção do poderio classista, através do uso de signos, símbolos de
poder e da criação de narrativas próprias. Sobre isso, Bourdieu (2011,
p. 14) aponta que:
“o poder simbólico como poder de constituir o dado
pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a
visão do mundo e, deste modo, a ação sobre o mundo, portanto o mundo”.
É um elemento decisivo na construção
de opiniões e na formação identitária de uma camada significativa da população.
Sendo assim, as relações entre os campos da Comunicação e da Religião,
ultrapassam o sentido primário da propagação estrita de ideais e doutrinas, desembarcando no
interesse privado de determinados grupos organizados, com vistas ao lucro.
O uso dos meios de mídia
é feito de forma massiva e, atualmente, através da internet, as macro-organizações
religiosas encontraram novo terreno fértil para a disseminação do seu hall temático.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebemos assim, que a religião (aqui
circunscrevemos o cristianismo em forma de organizações religiosas como
igrejas, templos, etc.) teve quer enveredar pela trilha histórica e absorver
aspectos da “mundanidade”, dantes tão criticados nos seus primórdios organizativos.
As mega-igrejas atuais aparecem como uma espécie de solução pontual para um
mundo socialmente caótico, onde as amarras da opressão e da exploração (em
todos os níveis) ainda rodeiam os indivíduos. Aqui não houve a leviana
pretensão de discriminar o campo da espiritualidade e das manifestações
místicas; tão importantes na formação de culturas e identidades, além dos
relevantes vieses ético-filosóficos que cada religião em maior ou menor grau,
proporciona aos indivíduos. Nos detemos na verificação do uso (as vezes,
escuso) que alguns grupos fazem da apropriação dos meios midiáticos, para
servir à interesses materiais privados, destoando assim, da natureza e função
social primária a que historicamente, se prestou o campo espiritual/religioso
REFERENCIAS:
1 Disponível em < http://colunastortas.com.br/2014/05/05/slavoj-zizek-contra-o-pseudo-ativismo-nao-aja-pense/> Acesso em: 02 de Junho de 2016
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
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